quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Em memória do Pedro, mensagem de George Vidor

Querido Vidor,
muito obrigada por sua mensagem carinhosa e por dividir com todos nós um pedacinho da juventude do Pedro.
Maria

Dona Maria

Já lhe conhecia há muitos anos, mas só fomos apresentados pessoalmente, por intermédio do Luiz Carlos, quando nos encontramos por acaso nos corredores de um shopping, passeando com quase toda sua família, em um dia feliz porque todos se preparavam para comemorar seu aniversário. A razão de lhe conhecer há tanto tempo é que fui colega, na adolescência, do seu filho Pedro. Em 1967, havia mudado às pressas para um pequeno e barulhento apartamento na Rua Bento Lisboa (minha a mãe se apavorara com o efeito das chuvas de verão nas bordas do bairro de Santa Teresa, onde morávamos) e Pedro vivia com a tia (sua cunhada ) na rua Artur Bernardes. Estudávamos no mesmo colégio  (Pedro II - Seção Sul) e fazíamos política estudantil juntos. Pedro acordava mais cedo que eu, passava embaixo do prédio para me apressar e lá íamos para o Humaitá - às vezes um motorista de ônibus mais camarada esperava por alguns segundos aqueles dois garotos correndo; eu ainda com um pão na mão.

Pedro estudava piano e eu gostava de música. Tinha uns bons discos de jazz e ele passou a apreciar esse tipo de música também. Fomos muito ao cinema, nas sessões do velho Paissandú. Embora eu fosse mais novo, estimulei Pedro a sair à noite - não eram tempos perigosos, ainda, para adolescentes como nós, que já se julgavam homens e amadurecidos. Uma vez fomos comemorar os 50 anos da Revolução de Outubro subindo a Pedra Bonita. Eu, Pedro e um outro colega (Alex Xavier, morto nos tempos da ditadura) formávamos "uma brigada avançada" que dormiria lá, preparando uma espécie de picnic. Choveu tanto à noite, ficamos tão ensopados que resolvemos descer quando o dia amanheceu. Mas o sol abriu, a turma da comemoração subiu e chegou lá não nos encontrou. Nada de sanduíches, bebidas. Ficaram furiosos com a gente...

Pedro e eu fomos a muitas passeatas de protesto juntos. Felizmente a senhora nunca soube, pois teria ficado preocupada, com razão, pelos riscos que corríamos.

Nossos caminhos foram se separando, à medida que a situação política se agravou no Brasil. Mantivemos alguma corrspondência quando voces todos já estavam abrigados em Moscou, mas o tempo foi passando e nossas vida foram tomando outros rumos.

Graças ao Luiz Carlos - Pedro falava muito da senhora e dos irmãos, e por isso "conhecia" toda  a família - reencontrei o Pedro em uma visita que fez ao Rio. Esse encontro foi no restaurante em um filho meu. Ele estava acompanhado da mulher e dos filhos. Luiz Carlos é testemunha da nossa alegria aos nos revermos depois de tanto tempo. Pedro não envelhecera; a fisionomia era quase a mesmo de quando era um rapaz.

Acho que nada pode diminuir a sua tristeza com a perda do querido Pedro. Mas saiba que ele foi um grande amigo e nós nunca o esqueceremos. George Vidor

Nenhum comentário:

Postar um comentário